quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Texto de Ailin Aleixo


TENTE MONET
"Às vezes a distância é a melhor coisa que pode acontecer.
Períodos de recuo são essenciais. Ou simplesmente acontecem, atropelando nossa vontade - mesmo assim continuam sendo estarrecedoramente úteis. Eles nos forçam a enxergar a situação com mais frieza e, por isso mesmo, de forma mais acertada e isenta de erros de julgamento que a intensidade e a bile nos levam a cometer (o significado do ditado chinês "o lugar mais escuro é sempre debaixo da lâmpada" tornou-se, de repente, tão claro para mim como areia em dia de sol).

O grande barato de, vez por outra, nos distanciarmos do que nos importa é sentir o que esse redimensionamento nos causa. E, seja ele qual for, a retomada nunca é insípida: ou nos faz enxergar a placa de "rua sem saída" que teimávamos em não ver ou devolve o brilho ao que o tempo havia enegrecido. Talvez por isso alguns casais só se entendam depois de uma separação: a dor, a sensação de ficar sem centro gravitacional, nao ter mais ali ao lado quem se ama pode provocar verdadeiros milagres na dinâmica de uma vida em comum (e na solo).
Mas não podemos contar com milagres, precisamos da razão. O problema é que nossa suposta sapiência tende a subavaliar o que se tem ou (talvez seja pior) exagerar na importância e, se quisermos ser felizes, é inútil proclamar independência emocional ou tornar-se escravo das paixões. Qualquer extremismo nos isola. Só compreendemos o valor do que nos rodeia e mora dentro de nós quando mergulhamos na solidão.
Depois de sofrer feito o cão por encarar tudo na base do oito ou oitenta, fiz um pacto comigo mesma: jamais levaria coisa alguma a ferro e fogo porque nada importa tanto. Absolutamente nada é imprescindível. Nem ninguém. Esse não um discurso de auto-suficiência, pelo contrário, é uma reflexão de alguém que aprendeu na porrada (ou, melhor, no choro) que só relativizando, tornando a existência e o coração mais leves é que se pode ser feliz e, então, ser feliz com alguém. Pare de arrastar correntes, levar tudo tão a sério: a única coisa que vai conseguir é uma úlcera. Cuide de quem ama, mas não faça disso o objetivo da sua vida, por que ficará inevitavelmente frustrado quando não tiver dele o que você ACHA que ele deveria devolver. Não existe prêmio para quem doa amor. Por isso, distanciar-se deveria ser uma tarefa cotidiana: evitaria que fôssemos sugados pelo redemoinho que sempre começa logo ali a nossos pés, mas estamos ocupados demais para ver. Evitaria que exercêssemos de forma tão eficaz, e perigosamente despercebida, nossos piores defeitos.
Quando algo começar a te enlouquecer, infernizar ou te fazer surtar, use a técnica dos grandes admiradores de arte: recue diante da tela, mude de ângulo, observe as cores, os traços e os detalhes que, na correria, sempre passaram despercebidos. Então notará que ela é muito mais do queaquele ponto preto que ficava, insistentemente, diante dos seus olhos.

Ser feliz, no final das contas, nao é questão de sorte ou azar. É questão de perspectiva."

Ailin Aleixo [autora de "Mulher Honesta" e "Só os Idiotas São Felizes")
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Pessoalmente esse texto se encaixou muiiiito a mim, em relação aos meus sentimentos das últimas semanas. Abriu minha mente. Sensacional.

2 comentários:

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  2. "(...)é inútil proclamar independência emocional ou tornar-se escravo das paixões. Qualquer extremismo nos isola. Só compreendemos o valor do que nos rodeia e mora dentro de nós quando mergulhamos na solidão".

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